A memória é uma ilha de edição
(Vinheta 11 - O Rappa - O Silêncio Q Precede o Esporro)
Antes de mais nada, precisamos destacar que a linguagem não tem por função gerar uma espécie de etiquetamento do mundo (para cada coisa um nome).
Usar a linguagem é desempenhar uma ação. Além disso, é importante analisar o contexto em que a ação (a linguagem) é desenvolvida e os propósitos aos quais pretende servir.
Os jogos de linguagem não têm contornos precisos e as suas possíveis regras não exaurem e nem determinam, de uma vez por todas, as possibilidades das jogadas
* * *
George Steiner, crítico literário e escritor faz um série de observações sobre a importância da linguagem para o entendimento da experiência humana, pois é através dela que os homens declaram a sua humanidade.
Alguns animais são capazes de utilizar códigos sofisticados, mas é através da capacidade simbólica humana que o tempo aparece e o passado, o presente e o futuro podem ser pensados e vividos de uma forma muito específica.
Não existe um ser humano anterior à linguagem.
Os tabus, as proibições, os interditos passam pela linguagem, uma vez que não posso proibir o que não posso nomear.
Para Giddens, a linguagem e a memória integram-se. A lembrança em sua forma individual não pode estar separada de um quadro coletivo da memória.
O universo é feito de histórias e não de átomos, como dizia Muriel Rukeyser.
Ou, como dizia Levi-Strauss, a linguagem é uma máquina do tempo.
Por meio dessa linguagem é possível criar uma tradição, algo que possa ser passado de uma geração a outra. Por meio das narrativas produzimos uma memória, um sentido do passado.
Assim, para Steiner:
"A história, no sentido humano, é uma rede de linguagem arremessada para trás." (p. 68)
O zoon phonanta anda lado a lado com o zoon politikon.
É a linguagem que me permite delimitar quem eu sou e o diálogo é sempre uma proposta de conhecimento e estranhamento mútuo.
* * *
Mas, é preciso lembrar que
“...os jogos de cartas, os casais numa pista de dança, as equipes cirúrgicas em ação e os combates de boxe são outros tantos exemplos de encontro: todos eles ilustram a organização social de uma orientação momentaneamente conjugada (...) Quero sugerir com isso que a palavra se produz - quando se produz – no seio de uma tal disposição social. (...) Note-se, portanto, que o habitat natural da palavra é um lugar onde nem sempre a palavra está presente. (...) A palavra é socialmente organizada, não apenas em termos de distribuição de locutores e de registros linguísticos, mas também como um pequeno sistema de ações face a face, mutuamente confirmadas e ritualmente conduzidas. É por outras palavras, um encontro social.” (GOFFMAN In: WINKIN, 1999 p. 152)
Portanto, os interlocutores fazem avaliações práticas e jogam com recursos linguísticos e extralinguísticos de que dispõem em uma situação dada.
Referências
GIDDENS, Anthony. Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002
STEINER, George. Extraterritorial: a literatura e a revolução da linguagem. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. (Animal com Linguagem)
Pollack, Michel. Memória, Esquecimento e Silêncio. In: Estudos Históricos . Rio de Janeiro, V.’01. 2. n. l, 1989