Dando continuidade às análises de Howard S. Becker, vamos verificar que a produção de representações sobre a sociedade envolve quatro elementos fundamentais sobre os quais precisamos pensar.
O primeiro deles é o processo de SELEÇÃO: produzir uma representação sobre alguma coisa significa, necessariamente, excluir determinados elementos.
Sendo assim, a primeira questão que aparece é: o que poderia ou deveria ser excluído? quem definiria isso?
Como vimos, a comunidade interpretativa tem uma papel importante nessas decisões.
Dando continuidade às nossas reflexões, nos deparamos, agora, com um novo desafio. Precisamos adequar nossas representações a determinados meios, ou seja, entramos no processo de TRADUÇÃO daquilo que estamos vendo, ouvindo, sentindo ou imaginando.
Traduzir significa transpor um conjunto de elementos para outro conjunto de elementos. Por exemplo: as minhas observações sobre o cotidiano viram poemas ou romances ou música.
Por isso, somos obrigados a identificar ou produzir um tipo de "linguagem" adequada aos meios que temos à nossa disposição (escrita, audiovisual, hipertextual etc.)
O ARRANJO é outro elemento fundamental presente em uma representação da realidade, uma vez que é necessário "organizar" de algum modo a narrativa. É preciso começar de algum lugar, seguir para algum lugar, dar início à história de algum modo.
É interessante observar como o hipertexto (a capacidade de produzir diversos textos interligados por links) abre um conjunto de novas possibilidades às narrativas (escritas e audiovisuais).
Na maioria das vezes, todos aqueles que trabalham com representações do nosso cotidiano precisam tomar decisões relacionadas aos elementos acima.
O que não podemos esquecer é que o leitor, o ouvinte, o espectador ou o usuário dessas representações "interferem" no modo pelo qual essas escolhas são feitas. Vamos ver como isso acontece.
Em primeiro lugar, produzimos representações para alguém (um perfil social qualquer baseado em dados ou um perfil imaginado do destinatário do nosso texto). O leitor, o ouvinte e o espectador estão presentes nas escolhas anteriores. Eles fazem parte da comunidade interpretativa.
Por outro lado, um livro, um programa de rádio, um filme ou um jogo só ganha existência diante de um usuário que o utiliza dentro de algumas expectativas.
O usuário precisa construir suas representações do mundo a partir das representações propostas pelos produtores (de notícias, novelas, filmes, jogos etc). Chamamos esse momento de PROCESSO INTERPRETATIVO.