Espaço social, habitus e estilos de vida

Vamos refletir, agora, sobre a posição social dos agentes (indivíduos) no espaço social e a sua relação com os estilos de vida. 

Por meio dessa espécie de mapa social é possível avaliar as distâncias e as proximidades entre esses indivíduos e as probabilidades de estudarem nas mesmas escolas, frequentarem as mesmas festas, comprarem roupas nas mesmas lojas, viajarem para os mesmos lugares etc.

Esse mapa é criado a partir da relação entre o capital econômico e do capital cultural dos agentes e suas famílias. É uma espécie de cartografia - uma topologia social.

As diferentes posições que as pessoas ocupam no espaço social, indicam diferenças nos estilos de vida - como se fosse um sistema de desvios diferenciais entre os agentes. As diferenças em suas condições de existência acabam por sofrer uma retradução simbólica em seus estilos de vida.

Essa cartografia traça um quadro da distância social entre os agentes sociais: um mapa que indica a probabilidade de encontros e desencontros entre os agentes sociais em posições sociais muito diferentes

A mediação entre essa posição no espaço social e as práticas e preferências dos agentes é chamada de habitus por Bourdieu. O habitus é uma disposição que adquirimos nas nossas experiências nos espaços sociais em que somos criados. Ele orienta o nosso gosto, as nossas formas de percepção e apreciação do mundo e não atua de forma clara ao nível da consciência.

O habitus é uma disposição em dois sentidos: ele pressupõe um padrão que ajuda a organizar a nossa ação (reconhecer determinadas situações para poder agir) e indica uma certa predisposição que adquirimos ao longo do tempo. Uma tendência a perceber o mundo, pensar e a agir de uma certa forma.


 * * *
O habitus é formado como uma disposição corporal e não somente cognitiva. Não é apenas ao nível do pensamento que ela atua, mas ao nível do nosso próprio corpo. Ela é uma héxis.

Por isso, é bom lembrar com Maurice Merleau-Ponty (A estrutura do comportamento) que:

"O espírito não utiliza o corpo, mas se faz por meio dele 
Meu corpo ... é meu ponto de vista sobre o mundo 
O corpo é nosso meio geral de ter um mundo”


* * *
Nosso próprio modo de falar é uma técnica do corpo, logo, ele é uma forma pela qual a hexis aparece e orienta a nossa relação social com o mundo.


LINS, Daniel (org). Pierre Bourdieu: o campo econômico. Campinas/SP : Papirus, 200 (Crítica Armada p. 37-38)